O texto abaixo apresenta uma sugestão de roteiro para o trabalho
com o gênero dramático, em oficinas de literatura; desenvolvido com base
em experiências realizadas nas turmas participantes do Emcantar.
Antes
de mais nada, cabe-nos lembrar que a tradição aristotélica, segundo à
qual os gêneros são divididos em lírico, épico e dramático é apenas uma
base para nossas reflexões; e que os limites entre um gênero e outro são
constantemente questionados. Tais modelos são apenas norteadores para a
construção de um texto e jamais devem ser tidos como limitadores (ou
seriam contrários à proposta de liberdade inerente à criação artística).
Segundo
Massaud Moisés (professor e crítico literário), "os gêneros não são
espartilhos sufocantes, nem moldes fixos, mas estruturas que a tradição
milenar ensina serem básicas para a expressão do pensamento e de certas
formas de ver a realidade circundante. Sua função é orientadora,
guiadora e simplificadora" (p. 38).
Feitas tais considerações, lembramos ainda que o roteiro abaixo pode (e deve) ser adaptado, segundo o contexto em que será executado e que não pretende esgotar as possibilidades de trabalho com o gênero, nem trabalhar com definições muito aprofundadas dos termos relacionados ao tema.
Objetivos
Geral: promover um estudo do gênero dramático, por meio da produção coletiva de texto.
Específicos:
(1) estudar o gênero dramático, seus elementos e características; (2)
realizar um estudo comparativo entre os gêneros dramático e épico; (3)
possibilitar o diálogo com o campo das artes cênicas, por meio de uma
apresentação teatral.
Conteúdo: gênero épico; gênero dramático; personagens; cenários; atos; diálogos.
Tempo estimado: 4 ou 8 horas-aula (caso a 8ª etapa seja realizada).
Metodologia:
1ª
etapa: Realizar a leitura coletiva de um conto (à escolha do mediador,
segundo as preferências e níveis de leitura da turma) e discutir o
texto, com base em perguntas como: (1) quem são os personagens da
história? (2) quais são os principais acontecimentos da narrativa? (3)
em que locais/espaços tais acontecimentos se passam?
2ª etapa:
Produzir uma lista - com a participação de toda a turma - contendo
todos os personagens da narrativa e discutir as suas características
(físicas e psicológicas). Aqui, pode-se
deixar em aberto a possibilidade de que os participantes nomeiem
personagens que porventura não tenham sido nomeados no texto-base; ou
que façam referência a eles somente segundo a sua função (exemplo: "um
rei de um país distante", "o irmão mais velho", etc.)
Obs.:
Caso a turma não tenha o perfil muito participativo, sugerimos utilizar
o jogo da batata-quente como forma de "quebrar o gelo": aquele que
ficar com a "batata" deve listar um personagem que ainda não tenha sido
dito, até que todos tenham sido elencados.
3ª etapa: Produzir -
com a participação de toda a turma - uma lista, elencando os espaços de
destaque da narrativa e explicar o que é um cenário (local onde se
passa algum fato); discutindo a importância do cenário para a composição
de uma peça, enquanto elemento que influencia no clima e nos
acontecimentos da história.
4ª etapa: Selecionar os momentos
mais representativos da narrativa e elencá-los, cronologicamente, em
poucos itens; explicando o que é um ato (cada uma das partes principais
em que se divide uma peça). Sugerimos solicitar aos alunos que criem um
título para cada ato, como forma de exercitar a capacidade de síntese e a
organização dos acontecimentos.
5ª etapa: Com base nas três
listas anteriores, redigir cada ato da peça, mostrando aos participantes
que a história precisa ser contada por meio das falas/diálogos dos
personagens e não por um narrador. Aqui, explicar o conceito de rubrica
(nota curta, colocada em momentos do texto para fornecer informações não
explícitas pelos diálogos, tais como: tom da cena, emoção a ser usada,
ambiente, época, etc.). Há duas possibilidades de trabalho para esta
etapa: dividir a turma em grupos, segundo o número de atos estabelecido
na 4ª etapa (e solicitar que cada grupo escreva um ato); ou realizar a
escrita coletiva, com a participação de toda a turma. O número de
participantes e o perfil do grupo são elementos-chave para a escolha da
possibilidade mais adequada.
6ª etapa: Montar um livreto com o
texto completo e realizar a leitura coletiva do produto alcançado,
analisando se a adaptação manteve o sentido do original.
7ª
etapa: Produzir um quadro comparativo, elencando as diferenças
percebidas entre o texto produzido (gênero dramático) e o texto-base
(gênero épico); buscando uma definição conjunta para o que é o texto
dramático, quais são os seus elementos e suas características.
Obs.: é desejável que os participantes já tenham tido contato com o estudo do gênero épico, antes de realizar esta atividade.
8ª etapa (opcional): Encenar a peça, numa apresentação artística (com cenários e figurinos construídos pela turma).
Com
este roteiro, os participantes da oficina são capazes de estudar o
gênero dramático, de modo interativo; construindo conceitos
gradativamente e em coletividade. Destacamos assim os fatos de que: os
participantes estudam o gênero a partir de um produto próprio (o que
proporciona maior naturalidade ao aprendizado); e de que o gênero não é
estudado isoladamente, mas em comparação com outro, possibilitando
discussões muito ricas sobre os "limites" entre os gêneros literários.
Referências:
MOISÉS, Massaud. In: A criação literária. São Paulo: Melhoramentos, 1971.
Autora do Artigo:
Aline Caixeta, Arte-educadora do Projeto Tecnologia Escutatória, ministrante das Oficinas de Literatura. Graduada em Letras pela Universidade Federal de Uberlândia.
Aline Caixeta, Arte-educadora do Projeto Tecnologia Escutatória, ministrante das Oficinas de Literatura. Graduada em Letras pela Universidade Federal de Uberlândia.
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